O hobby da Marcenaria e Quando eu dei Um passo maior do que a perna
Dei um passo maior do que a minha perna, ou como dizem os americanos e na famosa música do Frank Sinatra, There were times that I bit more than I could Chew (houveram momentos em que eu dei uma mordida maior do que eu poderia mastigar)
No começo do ano passado, contratei um marceneiro para fazer duas mesas novas para meu escritório e algumas peças para eu solucionar pequenos problemas caseiros.
Não gostei muito do serviço. Achei lento, teve acabamentos não finalizados (que até hoje estão esperando uma visitinha extra do marceneiro) e o preço ficou um pouco salgado pela qualidade entregue.
Neste processo de readaptação dos móveis do escritório eu acabei aposentando uma velha mesa que estava parcialmente fixada na parede. Ela estava amparada por dois pês de metal além da fixação na parede.
Como um bom “gambiarreiro”, reaproveitei a mesa na minha casa. Porém, obviamente tive que adapta-la agora sem a fixação na parede, ou seja, eu precisava completar o jogo de pés para ela ficar utilizável.
O próprio marceneiro me indicou a “LOJA” e quando eu cheguei lá achei “a Meca da Marcenaria”, tudo que você imaginar de materiais e ferramentas de todos os tipos.
Fiquei encantado com a LOJA e comecei a pesquisar mais e no fim eu descobri que a LOJA além de vender todos os materiais possíveis também entregava chapas de MDF e o melhor, conforme os cortes determinados pelo cliente.
Assim eu não precisava ter uma marcenaria em casa para resolver meus problemas com móveis!
Eu estava precisando de dois criados mudos e as opções não eram legais, parecia que eu estava navegando sempre de um extremo ao outro, ou a opção era muito barata e sem graça ou era um móvel de “designer” totalmente fora da minha realidade de preços.
No final, toda essa peregrinação foi útil porque foram se somando as ideias até eu chegar no produto final e na decisão de encarar o desafio de fazer o móvel eu mesmo.
Eu também precisava de uma mesa decente e algumas prateleiras, mas como eu tinha feito a gambiarra com a mesa do escritório adicionando os dois pezinhos, eu decidi priorizar o criado mudo e ficar com a minha mesa meio bamba por mais um tempo.
O primeiro passo foi contratar uma projetista de móveis para fazer o desenho para mim. Não compensava eu gastar tanto tempo aprendendo a desenhar os móveis. O tempo de aprendizado e a chance de ocorrer um erro de projeto era muito grande e o valor do profissional seria muito compensatório.
Iniciei um bate papo com a loja e a projetista, neste processo descobri o tamanho das placas e alguns termos técnicos, como “cava”, que seria a gaveta sem puxador. Móvel tamponado ou não tamponado, que seria o móvel com uma espécie de parede dupla. Enfim, já deu para ver que eu não sabia nada de nada.
Aprendi também que o tamanho padrão de uma chapa de MDF e outro termo interessante era o plano de corte, que seria como a chapa de MDF seria cortada, como nesta imagem abaixo, bem como o software para fazer esse corte:
Minha ideia inicial era fazer apenas um criado mudo, mas como o corte ficou muito pouco aproveitável e eu perderia uma quantidade muito grande de MFD. Então decidi dobrar a meta e esticar um pouco mais até conseguir um aproveitamento decente do MDV.
Além de fazer os criados mudos, adicionei alguns corte para fazer algumas prateleiras de latinhas, para colocar em exposição uma coleção de latas que eu tenho já desde criança e que eu sempre adiei o projeto - logo vou voltar a essa história.
Aproveitando o MDF para o criado mudo e para as latinhas, eu pensei que chegaria ao aproveitamento máximo da chapa e de fato, em algumas dela eu consegui até uns 95% de aproveitamento, no total acho que foram duas chapas brancas e uma amadeirada.
Mas eu não fui nada inteligente na escolha do projeto.
Ao invés de eu começar com as prateleiras e a mesa, que eram projetos mais fáceis e sensatos, eu iniciei com um criado mudo que era gigante, com duas gavetas e extremamente difícil de montar.
E ainda para piorar, houve um erro de informações entre os desenhos da projetista e o pedido na loja que eu acabei por pouca experiência não percebendo e alguns cortes não foram realizados e eu tive que improvisar algumas coisas.
Também não pedi para a loja colar as fitas de borda, que são um acabamento final. Na verdade eu nem sabia que eu poderia escolher essas fitas e já receber elas coladas, o que aprendi muito tempo depois, olha como é o acabamento do móvel sem a fita, ou melhor, sem acabamento:
Em resumo, eu não tinha as habilidades necessárias para montar o móvel. Pedi ajuda, em vão, ninguém quer saber de um projeto mal feito, que daria 5x vezes mais trabalho do que recomeçar tudo, sem as fitas de bordo coladas e sem uma guia para montagem.
Não é como comprar um móvel pela internet com todos os furos e guias e nem mesmo furar eu percebi que sabia fazer direito.
Enfim, não consegui ajuda e a minha vontade era jogar tudo pela janela literalmente e aceitar o prejuízo e a vergonha das minhas escolhas precipitadas.
O tempo vai passando e depois de muitos tutoriais do YouTube eu ainda não conseguia ter ideia por onde começar e o móvel estava acumulando poeira e atrapalhando minha rotina. Parecia que eu não tinha para onde fugir.
Decidi por fim, deixar esse projeto de lado. Poxa, dei um passo maior do que a perna, mordi mais do que eu podia comer. Enfim como diz a música do Sinatra, tive que engolir um pouco, cuspir o resto e como bom brasileiro, tive que dar uns passos para trás.
Segui em frente e não desisti de todo o lance da marcenaria, mas resolvi dar continuidade aos projetos mais simples, como um mal apostador, ao invés de sair da aposta eu dobrei a aposta seguinte e passei para os projetos mais simples.
Primeiro, montei as minhas primeiras prateleiras de latinhas e descobri que você precisa de uma broca escariadora para isso direito, aqui está o primero protótipo das prateleiras de latas, essas eu usei mais para fazer testes de como ficariam no futuro quando eu fosse executar o projeto seriamente:
Depois passei para a prateleiras e as mesas. Essas eu não precisei de projetista, apenas mandei cortar o MDF na medida desejada e criei um engrosso para a mesa, cortando mais uma chapinha de MDF para dar a impressão de que a mesa é mais espessa do que realmente era.
Finalmente eu aprendi a usar a fita de bordo direto da fábrica e meu trabalho ficou mil vezes mais fácil — ufaaaaa:
As mesas e as prateleiras do quarto recém feitas:
Atualmente em uso:
ToDo:
- Organizar a bagunça especialmente nas prateleiras de cima;
- Fazer um painel para colocar coisas na parede
Optei por encomendar na metalúrgica as bases da mesa e os braços da prateleira o que facilitou muito o serviço, para as prateleiras eu escolhi um braço duplo com uma prateleira fina e a outra mais grossa.
Mesmo em um projeto simples, o universo não perdoou minha falta de conhecimento e arrogância e me deixou um lembrete sobre conferir e reconferir sempre as medidas das minhas encomendas:
Na cozinha o projeto ficou assim:
Hoje (precisando de um ajuste nessa barrigada)
Neste projeto sobrou muito MDF e eu precisava fazer alguma coisa com todo aquele material, foi a desculpa perfeita para comprar todos os materiais e ferramentas que eu precisava, serra circular, tupia, grampos, régua, moldes, brocas, colas, enfim, fui consumido pelo “hobby”.
De uma forma ou de outra, foi o suficiente para aproveitar melhor todos os pedaços de madeira que eu tinha, então eu cortei a mesa velha (aquela ainda sobrevivente dos pés metálicos) e juntei com um resto de MDF das prateleiras e chananannnn, eis que surge a SAPATEIRA:
Logo no início:
Hoje:
A casa ficou e está repleta de pedacinhos de MDF por todos os cantos (eu não tenho uma oficina dedicada a isso - AINDA).
Assim, fui treinando outras habilidades que eu poderia utilizar para fazer o criado mudo, como parafusar, colar, cortar, alinhar e instalar as gavetas (tutorial do YouTube) até que eu decidi encarar finalmente o projeto, aqui é um dia de luta com os materiais:
Nem tudo foi como eu planejei e ficou perfeito, mas no fim das contas, ficou ótimo para a finalidade que eu precisava e quebrou um baita galho além de eu ter aprendido muito neste processo.
A grande lição é, se você deu um passo maior do que a perna, se você mordeu mais do que poderia mastigar. Dê um passo atrás, volte, diminua o ritmo, quebre o problema em pequenas partes, aprenda novas habilidades e depois vai parecer que seu projeto que antes era IMPOSSÍVEL, ficou bem mais fácil de ser realizado.
O produto final.
E o próximo projeto, finalizar as latinhas com prateleiras flutuantes, ainda estou na fase de furação:
E a ideia é que fiquem assim:
Eu fazendo as gambiarras: