Triste Declínio do Negócio Local

Um fenômeno que tem me chamado atenção é o aumento de locais no centro da cidade disponíveis para locação.

Se você mora em uma cidade pequena e especialmente se você vai ao centro todos os dias, como é o meu caso, fica mais fácil perceber esse fenômeno.

Porra, eu não tenho dados estatísticos para comprovar a minha tese, todo esse texto se baseia unicamente em observações não comprováveis da realidade.

Sempre foi possível perceber um fluxo de negócios indo e vindo, o que é normal e corriqueiro no centro. Proprietários gananciosos que preferem o negócio vazio a negociar um pouco o valor da locação.

Em certos pontos comerciais, que eu chamo de “ponto amaldiçoado”, aquele lugar que já foi um centro de estética, loja de bugigangas, casa de pão de queijo e estúdio de tatuagem e nunca vingou. Não há mágico que consiga fazer aquele lugar funcionar.

Não, o que chama atenção atualmente é que mesmo negócios antigos e consolidados da cidade estão se extinguindo, mesmo em pontos incríveis, negócios tradicionais que estão na cidade há decadas estão simplesmente SUMINDO.

Quais exatamente são os fatores que estão levando estes negócios a extinção eu não sei dizer. Quais os fatores micro/macro econômicos envolvidos também não. Como falei, trata-se de uma observação pessoal, mas eu tenho um palpite: Facilidade da transação Online.

Não vou apontar um ou outro culpado, Amazon, Google, Shopee, Shein, Taxação ou não Taxação Internacional? Enfraquecimento da indústria e do comércio? Há uma tonelada de fatores a serem questionados, o esforço seria em vão.

O que quero realmente chamar a atenção é…

Para onde está indo todo o dinheiro do comércio local?

Grande fatia para uma empresa no exterior e isso nos afeta diretamente, quando eu estava pensando neste assunto acabei esbarrando na seguinte lista de quem é afetado quando o pequeno negócio local “desanda”:

  • Um proprietário deixou de alugar um imóvel;
  • Um empresário deixou de atuar;
  • Um ou mais vendedores perderam seu emprego;
  • Um contador perdeu um cliente da sua carteira;
  • Um advogado terá menos demandas para servir;
  • Uma zeladora/diarista teve um ponto a menos para atender;
  • Um TI perdeu seu cliente;
  • Etc.

E mais alguns reflexos indiretos que vão trazer o mesmo efeito, menor circulação de capital dentro da cidade. Alguém pode exclamar vitorioso: Poxa, mas temos mais entregadores, motoristas, motoboys, mais pessoas que trabalham com o mercado online e que ganham com isso!.

Eu rebato: É muito pouco comparado com os prejuízos da lista acima. Não tem como substituir. Ninguém vai prestar um serviço digno e de alto valor para essas companhias. O contador por exemplo não vai conseguir prestar um serviço para a Amazon. Um advogado não irá fazer um processo de cobrança ou defender uma ação trabalhista da Google. E muito menos os outros profissionais que estão listados, especialmente um profissional com baixa formação (ex. zeladora).

O que resta para a cidade são subprodutos de um negócio, resquícios pequenos que não trazem riqueza de fato para as cidades, apenas empobrecimento coletivo. Hoje basicamente toda a economia está vinculada a um grande player que não é brasileiro, como a gente vai sair dessa posição?

O que fez essa mudança de cenário simplesmente foi a competência dessas grandes empresas. Talvez podemos questionar o abuso do poder econômico, dumping para domínio do mercado, exploração e outras práticas terríveis, mas a realidade já está instaurada.

Solução

Tentar iniciar uma campanha contra o comércio online? Que bobagem. Como dizem, não dá pra secar o oceano com um rodo, não podemos esperar que o consumidor tenha uma compra consciente, pagando mais e torcendo pelo desenvolvimento da sua cidade e do seu país. No final, o que pesa mesmo é o reflexo imediato no bolso. Mesmo que no futuro ele venha a ser projudicado por esse tipo de monopólio, sem nem perceber.

O movimento é muito convergente para uma única ação e os esforços em sentido contrário praticamente são inúteis. Creio que a única saída seja formar pessoas melhores que consigam enxergar novas formas de recriar velhos produtos. De produzir melhor e terem mais capacidade de se adaptar as mudanças do mercado e da vida como um todo. São muitas mudanças rápidas em um mundo em constante transformação. Precisamos melhorar como um todo.