Um lembrete a mim mesmo sobre o mundo fake e saindo do modo consumo para o modo produtivo

Me flagrei acreditando no conteúdo ilusório das redes sociais (e frequentemente caio nessa). Já estava imaginando milhões de possibilidades baseadas em informações imprecisas e irreais, comparando minha vida realidade com a “realidade” de postagens em redes sociais.

Assim, decidir escrever esse texto como um lembrete de fixar os pés na realidade.

Meu objetivo aqui não é criticar/julgar ninguém, mas apenas usar esse exemplo pessoal meu para questionar até que ponto estamos observando as redes sociais com o devido afastamento e certa ceticidade, ou adotando esse conjunto de sons, imagens, música e textos altamente produzidos como um contexto de realidade.

Que imagens são essas que chegam sem parar? Temos um nível enorme de produção, iluminação, ambiente e edição que alteram sensivelmente o conteúdo original. Essas ferramentas estão cada dia mais disponíveis para as pessoas “comuns”, além da infinidade de filtros sobre filtros em colorações corrigidas. Chega a um ponto em que parece que a minha vida não é tão vibrante e colorida quando comparada com as rotineiras postagens das redes sociais.

Aquele vídeo de culinária, cheio de sons e efeitos, a faca batendo na tábua após o corte de cebola, batidas, alimentos sendo atirados, água fervendo e o delicioso barulho de fritura também não passam de uma bem produzida colagem de áudios sobre as imagens, que foram produzidas em algum tipo de estúdio. Muito menos real é a reação do orgástica do chef no fim do preparo do prato mirabolante. Porque meus pratos não são tão bons assim?

O guru financeiro daytrader megablaster está disposto a compartilhar contigo toda a sua experiência e estratégia também soa bom demais para ser verdade, promessas de ganhos mirabolantes com um toque de midas que conhece todos os segredos não contados pelos outros gurus financeiros ao alcançe módico de um curso que já tem “oitocentosmilasssinantes satisfeitos”. Será que eu sou tão burro para fazer dinheiro desse jeito?

Algum maluco fitness paranóico falando de como meus hábitos são péssimos, como sou preguiçoso e invento desculpas para não cuidar da minha saúde e como você tenho consumindo produtos químicos a vida inteira e toda minha infância foi uma mentira. Se eu fosse levar em conta este tipo e conteúdo eu já deveria estar morto ou com algum grau avançado de câncer de acordo com as combinações mortais entre agentes químicos e agrotóxicos acumulados nos últimos trinta e tantos anos.

Esses foram só alguns de infinitos exemplos para chegar ao questionamento deste texto. Até que ponto vamos acreditar em todas essas bobagens, nestas imagens, vídeos e gurus do conhecimento. Toda essa falcatrua que parece se proliferar cada dia com mais intensidade do que nunca. Porque ao invés de levantar um pensamento crítico e um questionamento, parece que eu me entrego de cabeça na onda do guru, da autoridade ou do influenciador e deixo de lado o meu raciocínio e a construção das próprias ideias e projetos pessoais, assumindo que minha vida está em tons de cinza?

Porque eu continuo caindo no consumo desenfreado das redes sociais e todo o seu encanto de seu “material fake” e muitas vezes tomo por verdade vídeos de 15 segundos e tento implementar um novo hábito saudável na minha rotina ou deixo que desperte em mim sentimentos indesejados, como arrependimento e o desejo de viajar para um local “paradisíaco” baseado em vídeos e tomadas ultra editadas.

Por isso, esse é um lembrete para mim e um alerta para quem está lendo: É preciso estar consciente e atento para evitar essas armadilhas.

Saindo do Modo Consumo

Uma das minhas estratégias dos últimos anos é fazer um esforço pessoal para sair do Modo Consumo burro das redes sociais e possuir uma análise crítica e um esforço maior ainda para inverter o comportamento ao extremo oposto. Saindo do Modo Consumo e partindo para o Modo Produtivo, inclusive com este conjunto de aletoriedades que eu chamo de blog. É bem mais fácil ficar olhando o que outras pessoas produziram do que ficar imaginando, escrevendo e expondo suas ideias pessoais.

Há uma antiga lenda urbana que diz que apenas 1% dos usuários produzem conteúdo na internet e os outros 99% apenas consomem cegamente este conteúdo. Provavelmente isso venha da época em que era preciso conhecer html para postar alguma coisa mas tenha mudado com a facilidade atual de produzir e postar conteúdo na internet, ou quem sabe essa lenda não tenha nenhum embasamento, mas traz uma interessante reflexão sobre o Modo Consumidor e o Modo Produtor.

Bom, eu não gosto de escrever sem trazer algumas providências práticas para vida, algo que eu também possa adotar para mim mesmo. Então, pensando em como sair do modo consumidor cego analisando as autoridades/influencers que você tem consumido em qualquer área siga algumas dicas:

  1. Talvez você já tenha lido e conheça coisas o suficiente para passar para produzir alguma coisa então pule todos os passos e foque na produção. Produza qualquer coisa. Qualquer história. Conte uma história que você costuma contar aos seus amigos aqui, no papel, no texto puro e extraia uam lição disso. Reviva uma experiência. Compartilhe uma aprendizado que você tenha de sua vida. Sente, pense, crie brainstorms pessoais. Reviva, reflita, sintetize o que você sabe, o que você conhece. Talvez você saiba mais do que você pensa que sabe. Você deve ter algo de bom para compartilhar. Algo que vêm de sua experiência mais pessoal e que vai ser muito, mas muito mais útil do que a reprodução de conteúdos dos outros, de remastigação de texto e de mais uma refatoração.

  2. Crie brainstorms malucos, de 200-300 ideias, coisas malucas e aleatórias que ninguém pensou. Suas ideias iniciais serão óbvias, evidentes e de senso comum. Mas com o passar do tempo, você irá descartar as idéias ruins e fazer conexões malucas que não poderia ter imaginado anteriormente. Fique ligado em tudo que acontece, ao mundo a sua volta, preste atenção em todos os detalhes, em tudo que as pessoas falam e tente sugar o máximo da sua experência de vida.

Se você está se questionando e tem interesse em algum assunto

Provavelmetne você já segue algum guro de determinado assunto, então porque não aprender um pouco mais e questionar os seus conhecimentos e até o conhecimento do seu “influencer preferido”?

  1. Se você quer aprender sobre um assunto, leia e estude os livros mais requisitados e famosos, os bestsellers do ramo, os clássicos dos clássicos. Por exemplo em finanças, começe pelo “Pai Rico, Pai Pobre” e outras edições semelhantes, que possuem um entendimento já consolidado: Após a leitura de alguns clássicos do ramo estudado, você já vai perceber que os influencers e as “autoridades” simplesmente resumem o conhecimento destes autores já consagrados. Não existe efetivamente informação nova, mas o seu reprocessamento.

Tente reproduzir alguma coisa do livro com suas palavras. Pense nas sua vida e nas experiências do livro com suas atitudes pessoais. Com sua história pessoal e como essas novas ferramentas podem te ajudar. Sintetize o que aprendeu, escreva, crie um vídeo, uma história e compartilhe.

Para criar informações novas é preciso experiência prática real. Essa experiência pode sim partir do livro. Como no exemplo mencionado, há vários gurus que explicam o método do Pai Rico. Porém, para criar um conteúdo novo, é preciso mais um esforço tremendo para dissecar as diferenciações da realidade de cada um e sistematizar em um outro conteúdo, criando um novo material com base nas experiências individuais do autor.

Tenha em mente que o que funcionou para o guru/influencer e até mesmo com o autor novo também não necessariamente vai refletir a sua experiência pessoal. Há uma série de detalhes pessoais que não podem ser considerados de imediato, como por exemplo a nacionalidade e o local onde o livro foi escrito. Mesmo que você possa retirar lições abstratas e úteis para você, nem sempre as experiências serão replicáveis.

  1. O segundo passo, depois de um certo conhecimento no tema é procurar as bases e referências de pesquisa do tema mencionado, especialmente quando essas referências são citadas como uma verdade (“Diz o autor x ou y no trabalho que a conclusão é essa”): Você vai poder matar grande parte das falácias acessando o material original que não reflete o discurso mencionado pelo influencer, você irá descobrir que a referência passa pelo filtro do interlocutor, sendo uma conclusão da conclusão. Muitas vezes, a referência sequer existe ou não tem absolutamente nada a ver com a conclusão tirada. Terminando, complemente com livros mais teoricos, que podem ter trazido a base para outros livros mais simples e até livros que questionam as bases do conhecimento científico sobre determinado assunto.

  2. Questione as bases de conhecimento: Porque autor afirma isso? Quais são as consequências destas afirmações? Quem se beneficia com essa ou aquela informação? Essa estatística está completa? Essa pesquisa realmente representa alguma coisa ou é praticamente uma amostra aleatória? Este argumento é real ou apenas uma falácia? O que é esse método científico utilizado? Isso serve para quem e para evitar quais questionamentos?

  3. Use conhecimento cruzado. Ultrapasse as barreiras do “seu ramo” e se aventure em novos mundo. Ouse buscar novos conhecimentos. Porque não um livro sobre marketing, sobre vendas, sobre economia. Porque não buscar aplicabilidade desses conhecimentos na sua área. Milhares e milhares de pessoas já fizeram isso e continuam fazendo “impunemente”! A principal chave é a ação. Busque ações ativas que possam trazer impacto à sua vida e na sua atividade principal. Um exemplo que eu usei há muitos anos foi como melhorar a tipografia das minhas petições. E aqui, estou digitando o texto em markdown usando o Visual Studio Code e posteriormente vou publicar isso usando uma ferramenta chamada Jekyll em um servidor que não me custa absolutamente nada.